segunda-feira, 28 de maio de 2012


A ARITMÉTICA DA MORTE
à memória dos meus amigos

I

Como morreu
o meu amigo Kimpwanza,
cercado de lama,
com o cheiro das flores,
entre as narinas,
... embalado pelo murmúrio da noite
e uma bala trespassando-lhe
a garganta,
levado pelas águas revoltas do rio,
onde se diluiu o sangue imberbe
de estudante universitário
e revolucionário...

II

Igualmente,
pereceu Wandalika;
... era cacimbo no planalto,
o pelotão de jovens soldados,
percorrido por um vento frio,
saraivou à altura do peito,
medalhando para sempre,
o professor primário
que acreditou nas contas da vida
até a última centelha
e engordou o sonho
da jubilação: o reencontro dos angolanos
- como ele dizia -
misturando o seu falar a
uma citação bíblica!

III

Na verdade,
Kimpanzwa lia Mao
e falava do Povo,
Wandalika, ele
o próprio povo, eleito
e transbordante de fé,
falava de Deus.

IV

Assim,
acreditando na utilidade
desta aritmética da morte,
se finaram os meus amigos,
precoce e nobremente
mas sem construir
o sonho que lhe lhes soprava a vida.

Apenas me legaram
este dever de memória!...

V

Mas,
diante desta campa rasa
onde anónimo deposito flores,
esta campa rasa que podia ser
a do meu amigo Nado,
a do meu colega Cangosso
ou a dos meus primos Xandoca e Jacob;
a campa rasa do Elisiário, do Abel ou
a de tantos outros,
devo dizer-vos -
olhos tristes, coração desfeito,
por este sentimento coagulado
que trago no peito, a dor
da ausência e o sonho imperfeito -
Devo dizer-vos que
a memória não é azeda,
luz e necessidade vital
da nossa identidade,
Não traz pão à boca
das novas gerações!

E. Bonavena
(in Os Limites da Luz, impresa nacional-casa da moeda, 2003)
3


APELO

                                    AMIGOS DO BLOCO DEMOCRÁTICO




Foram convocadas eleições para 31 de Agosto. Daqui ha 20 dias os partidos politicos têm que entregar ao Tribunal Constitucional cerca de 350 candidaturas para deputados, incluindo os candidatos a Presidente e Vice-Presidente e 15.000 assinaturas distribuidas por todo o território nacional. isto perfaz mais de 20.000 papeis. Um esforço gigantesco de organização ...tem que ser montado para candidatar o Partido para as eleições de 2012. 
Assim, todos os membros, simpatizantes e amigos do BD são chamados a colaborar assinando a proposta de candidatos. Para o efeito, é preciso entregar a cópia do cartão de eleitor. Contactem com a maxima urgência o local de assinatura na rua da samba, 112. Telefonem para receberem informação sobre como subscrever nas províncias fora de Luanda. Informem a todos os amigos e familiares que queiram ver o BD na Assembleia Nacional. Contribuam com meios financeiros, papel e outro equipamento para rápida concretização do desafio.
Francisco Filomeno Vieira Lopes
secretário geral do BD
                                         CONTACTOS 
Sede Nacional provisória
Tel: 222407198


BD-LUANDA


1. Kilamba Kiaxi - 928607797 (José Nganga)
2. Viana - 933887449 (Lutambi)
3. Samba/Belas - 923942040 (Tito Costa)
4. Sambizanga - (Abraão Muhindo)
5. Rangel - 6. Cazenga - 925973246 (Maurício)
7. Cacuaco - 935839851 (Ermelinda Freitas)
8. Ingombota - 923607007 (Alcides) 
9. Maianga - 925784286 (Garrido Costa)

coordenação geral 928554655 (Luis de Nascimento),924653083 (Nelson Pestana) e 923797508 (Issunji).

Vamos fazer BLOCO a BLOCO a
Liberdade, Modernidade e Cidadania activa

segunda-feira, 26 de março de 2012

VIRIATO DA CRUZ (25 de Março de 1928)

Mamã negra
(canto da esperança)

(À memória do poeta haitiano Jacques Roumain)

Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça,
Drama de carne e sangue
Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!

Pela tua voz
Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais
[dos seringais dos algodoais!...
Vozes das plantações de Virgínia
dos campos das Carolinas
Alabama
Cuba
Brasil...
Vozes dos engenhos dos bangüês das tongas dos eitos
[das pampas das minas!
Vozes de Harlem Hill District South
vozes das sanzalas!
Vozes gemendo blues, subindo do Mississipi, ecoando
[dos vagões!
Vozes chorando na voz de Corrothers:
Lord God, what will have we done
- Vozes de toda América! Vozes de toda África!
Voz de todas as vozes, na voz altiva de Langston
Na bela voz de Guillén...

Pelo teu dorso
Rebrilhantes dorsos aso sóis mais fortes do mundo!
Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor
[amaciando as mais ricas terras do mundo!
Rebrilhantes dorsos (ai, a cor desses dorsos...)
Rebrilhantes dorsos torcidos no "tronco", pendentes da
[forca, caídos por Lynch!
Rebrilhantes dorsos (Ah, como brilham esses dorsos!)
ressuscitados em Zumbi, em Toussaint alevantados!
Rebrilhantes dorsos...
brilhem, brilhem, batedores de jazz
rebentem, rebentem, grilhetas da Alma
evade-te, ó Alma, nas asas da Música!
...do brilho do Sol, do Sol fecundo
imortal
e belo...

Pelo teu regaço, minha Mãe,
Outras gentes embaladas
à voz da ternura ninadas
do teu leite alimentadas
de bondade e poesia
de música ritmo e graça...
santos poetas e sábios...

Outras gentes... não teus filhos,
que estes nascendo alimárias
semoventes, coisas várias,
mais são filhos da desgraça:
a enxada é o seu brinquedo
trabalho escravo - folguedo...

Pelos teus olhos, minha Mãe
Vejo oceanos de dor
Claridades de sol-posto, paisagens
Roxas paisagens
Dramas de Cam e Jafé...
Mas vejo (Oh! se vejo!...)
mas vejo também que a luz roubada aos teus
[olhos, ora esplende
demoniacamente tentadora - como a Certeza...
cintilantemente firme - como a Esperança...
em nós outros, teus filhos,
gerando, formando, anunciando -

o dia da humanidade

O DIA DA HUMANIDADE!...

(in No reino de Caliban II - antologia panorâmica de poesia africana de ex-
pressão portuguesa)

Do Viriato da Cruz gosto de todos os seus poemas. Mas este é o meu preferido, também pelo seu universalismo.

domingo, 25 de março de 2012

Pedrito cantor, cidadão e humano

“A riqueza está mal distribuída”

Pedrito, cantor angolano, foi entrevistado pelo hebdomadário Angolense, este fim-de-semana (23 de Março) e falou dos seus 40 anos de carreira, explicando a sua trajectória artística e as suas opções temáticas, nos diversos contextos políticos que o país viveu, desde o período colonial.

Nesta entrevista Pedrito revela-se um cidadão atento e sensível à questão social. Falando do momento político actual diz que “ainda sentimos dificuldades, somos mal entendidos, por fazermos uso da nossa livre opinião. Nada está escrito mas, na verdade, há uma espécie de autocensura, sem mais nem menos, precisamos de um ambiente transparente”.

Em relação à rota que levará à afirmação do país, Pedrito diz que é necessário abandonar “os antigos métodos”, é preciso uma “transparente gestão dos bens do Estado” e é imperioso que os “rendimentos do Estado beneficiem a vida do cidadão comum”.

Acreditando na cultura como vector de transformação, criou o tema “Humano e Cidadão” e insiste que “precisamos de solidariedade que seja sentida entre nós, angolanos, da cúpula à base”, reconhecendo direitos iguais a todos, “ricos ou pobres”. O caminho é trabalhar “para evitar o cinzento quadro no qual uns conseguem tudo e outros nem podem sonhar com nada – esses são os miseráveis”. Pois, sendo Angola um país rico, “no seu conteúdo humano”, “no seu subsolo, nas suas bonitas paisagens mas tal riqueza deve ser transformada em bem-estar palpável para que todos possamos sentir a consequente satisfação social”.

Pedrito, a terminar, afirmou sem ambiguidades que “a riqueza está sendo mal distribuída” e temos “graves problemas sociais”, nomeadamente “o desemprego que afecta a juventude”. Acrescenta, a título de recado, que o país deve ser bem dirigido, institucionalizando-se a prática da solidariedade entre nós e que “todos dirigentes angolanos devem convencer-se que o Chefe é o Povo” ou, como diria a Constituição da República, “ a soberania reside no Povo”, os governantes são apenas servidores públicos que devem fazer bem o seu serviço e prestar contas ao Povo.

Sem um bom governo e um sentido de serviço público da parte dos dirigentes, “levaremos muito mais tempo para alcançarmos o almejado desenvolvimento”, arremata o cantor que diz que participa através da consciencialização e do alento da esperança aos seus concidadãos.

BD -sic

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O BD É PELA LIBERTAÇÃO SOCIAL

Trinta e seis anos de país independente, o ciclo da libertação nacional está esgotado. Temos agora uma nova conjuntura política, económica, social e ecológica. A nova realidade chama o BD (Bloco Democrático) a assumir o papel de força catalisadora do movimento progressista e modernista nacional, dando continuidade ao seu projecto histórico, através de novos instrumentos, com vista a realização da Libertação Social.
As eleições de Setembro de 2012 chamam o BD a um papel de articulador de vontades pela transformação política no país. Uma transformação a todos os níveis: do Estado, da economia e da sociedade.
Mais do que juntar o anti-regime, o BD deve congregar a irreverência e a criatividade das mulheres, dos jovens e dos homens inconformados e activos para dar resposta às grandes questões da nossa época e aos sentimentos e aspirações profundos dos angolanos.
Ao BD cabe o papel de transformar o país para enriquecer os angolanos. Os cidadãos não podem ficar a ver o comboio do crescimento passar, sem que este se transforme em bem-estar social. Não podemos assistir à exploração desenfreada das riquezas, ao enriquecimento fácil e ilegítimo de alguns, enquanto grassa a pobreza da maioria.
Por isto, a nossa abordagem do Estado, da economia, da sociedade e do meio ambiente inscreve-se no esteio da democracia participativa e do Estado Social de Direito, actualizada em função dos novos desafios do século XXI.
O BD quer propor aos angolanos um programa de governação moderno, inovador e promotor de progresso em todos os domínios da vida social que conduza à emancipação do cidadão. O BD está ao serviço dos cidadãos, de forma esclarecida e voluntariosa, para que a Liberdade, a Modernidade e a Cidadania sejam uma realidade inquestionável no nosso país.
O BD é o partido da democracia participativa e social mas tem consciência de que não se pode distribuir sem criar riqueza. Por isto, está atento às condições de criação de riqueza e considera a classe empreendedora indispensável ao progresso do país.
O BD defende a solidariedade da produção e o investimento útil, opondo-se aos rendeiros e especuladores, favorece o investimento industrialista e combate a predação e os monopólios abusivos que entravam o dinamismo económico e o desenvolvimento nacional.
Para o BD aceitar a economia de mercado não implica a aceitação da mercantilização da sociedade, onde tudo é determinado pela força do dinheiro. O BD defende uma atitude de compromisso com um liberalismo condimentado com sistema reintegrador das assimetrias sociais, através de grandes instrumentos, como são os serviços públicos, a segurança social universal, a reforma por quotização, a fiscalidade progressiva, a assistência social, o patrocínio judicial público, o direito ao trabalho, o salário mínimo garantido e um rendimento nacional de cidadania, entre outros direitos.
O BD na sua mestria de governação pretende conjugar a necessária eficácia económica à importante equidade social. Estamos na política para servir os cidadãos, não somos um conjunto de aventureiros, temos um passado de luta e respeitabilidade e, sobretudo, queremos construir um futuro de esperança para Angola.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

BD partido da nova esperança

por Justino Pinto de Andrade.

Minhas Senhoras e Meus Senhores!Caros Jornalistas!
1. Primeiro que tudo, quero agradecer a vossa presença nesta Conferência de Imprensa. Como sabem, ela foi convocada com o objectivo de vos falarmos um pouco sobre o Bloco Democrático, também sobre o momento que o país vive e, ainda, sobre algumas das nossas expectativas para o processo eleitoral.
2. O Bloco Democrático constituiu-se recentemente como partido político – tendo sido formalmente reconhecido pelo Tribunal Constitucional há pouco mais que um ano. Mas é também o depositário de algumas longas e interessantes experiências políticas, fruto da participação activa de alguns dos seus integrantes em episódios que marcaram a nossa história moderna.
3. Muito por causa dessa herança histórica, podemos então dizer que somos um partido político que deve ser tido em conta e quer merecer a confiança dos angolanos e das angolanas.
4. Mas o nosso orgulho, enquanto formação política, deriva também de nos estamos a constituir num verdadeiro pólo de atracção para as camadas mais jovens, pois são precisamente os jovens que se colocam hoje na vanguarda do pensamento e da acção para a criação de uma sociedade aberta à modernidade.
5. Os jovens que aderem e que acreditam no Bloco Democrático tomaram consciência de que os seus direitos de cidadania têm sido intencionalmente subtraídos. Por isso, contestam já, e de um modo vigoroso e corajoso, o status quo, chamando a atenção do país e do mundo para o modo como são aqui cerceadas as liberdades. Somos por isso, e cada vez mais, verdadeiros referenciais para a nova libertação que o nosso país precisa e que estamos a empreender.
6. O Bloco Democrático orgulha-se do espírito combativo das novas gerações e quer ser a sua expressão política organizada.
7. O Bloco Democrático quer também constituir-se no porta-voz de todos aquelas outras gerações que viram as suas expectativas defraudadas. Temos a certeza que eles ainda alimentam a esperança de uma vida melhor para si e para os seus. E é possível materializar esta esperança, se todos nos unirmos em torno desta causa comum. Um povo sem esperança é um povo que está a morrer – e nós não queremos morrer.
8. Estamos, pois, a organizarmo-nos. Estamos, sim, a estruturar uma base sólida. A nossa identidade assenta essencialmente no nosso compromisso com os valores da liberdade, da modernidade e da cidadania.
9. O Bloco Democrático leva a cabo um processo de expansão por todo o território nacional. Temos tido dificuldades, sobretudo as que são impostas pela resistência dos caciques locais. Os caciques locais estão suficientemente identificados: eles representam um poder que teima em apostar na aplicação de fórmulas antigas, que o tempo se encarregou de negar.
10. Tal como sucedeu noutros países – mesmo aqui do nosso continente – o velho caciquismo está em declínio, e será substituído por uma Nova Esperança. Com a determinação de todos, e em especial daqueles que se identificam com os ideais do Bloco Democrático, lançaremos para o caixote do lixo da história os adeptos da opressão, da manipulação das consciências, da corrupção.
11. Os caciques locais dizem que não nos temem pela quantidade. Mas vê-se pela forma como hoje reprimem as contestações, que eles têm medo das novas ideias. Estamos a assistir ao despertar de uma nova consciência política e cívica. Hoje o nosso povo já vai saindo à rua para reivindicar os seus direitos que foram confiscados pelos caciques locais.
12. Cada membro do Bloco Democrático tem, pois, o dever de ser exemplar na comunidade onde vive, na escola onde estuda, no seu local de trabalho. Ele deve funcionar como o farol de uma Nova Esperança, afirmando-se pela clareza das ideias, pelo humanismo nas relações sociais, também pela forma como cumpre as suas obrigações.
13. Em todas as circunstâncias decisivas na história dos povos surgem sempre homens e mulheres determinados que servem de orientação para a grande massa. Cabe aos membros e simpatizantes do Bloco Democrático tomar a dianteira neste processo – construindo um bloco de ideias novas, novas propostas para devolvermos a esperança aos angolanos e às angolanas. Se aos outros coube a vez de desiludir o nosso povo, com as suas práticas negativas de intolerância e de insensibilidade social, a nós compete agora restituir ao nosso povo a Esperança perdida.
14. Cada vez mais, os resultados da má política estão bem visíveis: persistem os elevadíssimos índices de pobreza, a subida vertiginosa dos níveis de criminalidade, a agressividade contra os mais pobres, a opulência do novo-riquismo sem justa causa, a bajulação institucionalizada que se transformou em fórmula mágica para o acesso aos bens e ao património.
15. O Bloco Democrático quer organizar a nossa sociedade em moldes diferentes. Queremos crescer e desenvolver – e para desenvolver temos que atender às necessidades das pessoas. Queremos promover o bem-estar social e fazer da justiça social uma pedra-angular da vida dos angolanos.
16. A partir de agora, e através de uma Campanha de Exposição do Partido, vamos poder apresentar as nossas ideias e os nossos projectos de um modo mais atempado. Vamos comunicar mais regularmente com as nossas populações. Com o site do Bloco Democrático de que falaremos ainda aqui nesta Conferência de Imprensa, será mais fácil apresentarmos as nossas ideias e os nossos projectos. Por aí, todos passarão a ter um mais rápido acesso aos nossos documentos programáticos e, também, ao retrato da nossa actividade político-partidária.
17. O Bloco Democrático quer ser o destinatário privilegiado dos protestos legítimos dos nossos concidadãos. Desses protestos e dessas reivindicações, nós saberemos elaborar conclusões e traçar estratégias de actuação para uma melhor governação do nosso país.
18. Os indicadores sociais que nos são mostrados todos os dias e, em especial, nos relatórios internacionais, evidenciam a urgência de uma viragem de política.
19. Queremos implementar políticas económicas que atendam às necessidades dos cidadãos. Queremos que o crescimento económico beneficie os cidadãos na sua globalidade e não apenas um reduzido número de privilegiados.
20. No poder, o Bloco Democrático irá despartidarizar a Administração do Estado, colocando-a ao serviço do país. Iremos também aperfeiçoar e melhorar os métodos de actuação dos Órgãos de Defesa e de Segurança, para que eles sirvam verdadeiramente o interesse nacional, e não apenas o de uma parte dos angolanos.
21. Olharemos para o empresariado nacional na perspectiva do interesse global. Os nossos empresários sentir-se-ão, finalmente, livres da cultura da bajulação a que foram obrigados para viabilizarem os seus negócios. O seu interesse particular será devidamente protegido e salvaguardado, sem que se tenham de filiar num partido político.
22. Temos perfeita consciência da enormidade da tarefa de reordenar este país. Estamos convictos que é possível fazer melhor, para o bem de todos.
23. Este país precisa de pôr fim ao ciclo vicioso das alianças com as ditaduras. A época que vivemos exige novos posicionamentos internacionais, novas fórmulas de relacionamento internacional, sempre na perspectiva da construção de sociedades livres e realmente comprometidas com o desenvolvimento e as liberdades democráticas.
Minhas Senhoras e Meus Senhores! Caros Companheiros do Bloco Democrático!
24. Avizinha-se o período eleitoral e já se assiste a todo um conjunto de manobras com vista a desvirtuar a vontade dos angolanos. Criam-se leis que não se cumprem. Instrumentalizam-se os órgãos públicos que deviam funcionar como referenciais de transparência e de justiça.
25. O regime está a colocar as suas peças nos locais mais apropriados, e de novo com o objectivo de defraudar as justas expectativas do eleitorado. As peças desse verdadeiro puzzle estão em movimento, e nós não podemos ficar indiferentes. Temos que denunciar vigorosamente tudo quanto esteja incorrecto. Não podemos pactuar com uma nova fraude.
26. O país que hoje temos já é diferente do que tínhamos em 2008. Temos agora gente muito determinada que sai para as ruas em protesto. São protestos pacíficos, mas podem transformar-se em acções violentas se a repressão se abater injustamente. Nos outros países foi assim. E nós não queremos que o seja em Angola. Nós queremos que Angola seja um país de paz e de desenvolvimento. Por isso, apelamos ao regime que cesse imediatamente com a repressão que vem exercendo sobre os jovens e os trabalhadores.
27. O Bloco Democrático está preparado para um jogo democrático limpo. Mas não está disponível para dar cobertura a fraudes. E nem vai ficar de braços cruzados se o regime optar por violentar os direitos fundamentais do nosso povo. Estaremos determinados na defesa dos que são injustamente reprimidos.
28. Vamo-nos socorrer de todos os meios de protesto pacíficos para evitar que se defraudem as expectativas dos eleitores. Saberemos recorrer aos órgãos de justiça – desde que eles façam justiça – mas não nos coibiremos de sair também à rua, se os nossos direitos de cidadania estiverem a ser flagrantemente violados.
29. A sociedade civil tem um papel muito importante a desempenhar neste momento. Devemos, em conjunto, agir para que a tentação da fraude não prevaleça. A paz e a justiça são do interessa da nação e não apenas dos partidos políticos.
30. As oposições também podem coordenar-se de forma a reduzir a margem de manobra do regime no seu afã para tomar conta de tudo. Convidamos, pois, as oposições a juntarem-se a nós neste esforço pela Verdade Eleitoral.
31. Que as Oposições não se deixem seduzir por promessas e ofertas – afinal, a fórmula privilegiada pelo regime para desmantelar os seus opositores.
32. Queremos também alertar para o perigo de se dar muita importância às vaidades e ambições políticas pessoais.
33. Este é o pior momento para se dar livre curso aos particularismos de cada um. Devemos, sim, concertar esforços, mas com visão nacional e no interesse de uma verdadeira alteração do actual estado de coisas – e para melhor.
34. Desejo que se sintam bem e que coloquem as questões que acharem pertinentes.
Muito Obrigado!

(Texto da conferência de imprensa apresentada na abertura da campanha política do Bloco Democrático, em Luanda, pelo Presidente do partido)

sábado, 24 de outubro de 2009

POBREZA, ÁGUA E DESIGUALDADE SOCIAL

“As populações do país inteiro consideram que a vida delas poderia melhorar muito se tivessem acesso à água potável para as pessoas e, no caso particular do campo, para os animais e para a lavoura”.

Mais uma vez, este ano, se assinalou o dia mundial de combate à pobreza. Para o assinalar resolvi fazer uma breve reflexão sobre a situação do acesso à água (potável) que é uma condição fundamental para à vida, para o bem-estar e a saúde das populações e para o desenvolvimento económico e social do país. Há cerca de um ano, escrevi um artigo em que constatava que o acesso à água potável é uma prioridade social pois, a não realização deste direito de cidadania, está estreitamente relacionada com a pobreza e com a vulnerabilidade das populações às doenças, com os altos índices de mortalidade infantil, de doenças diarreicas agudas e outras. Basta ler os relatórios (mesmo os oficiais) ou falar com as pessoas para nos darmos conta disso.
As populações do país inteiro consideram que a vida delas poderia melhorar muito se tivessem acesso à água (potável) para as pessoas e, no caso particular do campo, para os animais e para a lavoura. Mas, infelizmente, apesar de termos um país rico, também em recursos hídricos, a situação vem-se repetindo e os níveis de satisfação dos cidadãos estão longe de ser satisfatórios.
A razão de ser desta situação, de uma fraca e desigual progressão nos índices de satisfação das necessidades das populações em água, tem a ver com a descoordenação das politicas adoptas, com a falta de compromisso dos governantes com estas políticas, com as opções casuísticas que inviabilizam o cumprimento das metas estabelecidas e com um certo desprezo pelo conjunto da população, traduzido também na persistente forte desigualdade de acesso ao precioso líquido, na diferença de qualidade e do seu preço. Paradoxalmente, os mais pobres são aqueles que para além (e por força desta situação) de serem marginalizados na construção de sistemas de abastecimento, são os que pagam a água mais cara do país, pois são abastecidos por terceiros, nomeadamente através dos camiões-cisterna, consumindo assim também a água de menor qualidade. Em verdade, o consumo de água potável, tal como o país, é também profundamente assimétrico e muito desigual, varia em função da situação social e económica de cada família mas também em função do desenvolvimento desequilibrado e despótico do país.
Pelas condições em que as populações vivem as políticas públicas sobre a água deviam ter “carácter de urgência”, sem prejudicar o seu enquadramento na estratégia de desenvolvimento económico e social do país. No entanto, são preteridas em relação a outras prioridades. Não restam dúvidas de que há ligações intrínsecas e inegáveis entre o acesso à água e a saúde das populações, entre o acesso à água e a educação pelo que a política de água, no país, devia merecer a maior atenção da parte dos governantes.
Porém, para além dos baixos níveis de resposta às grandes necessidades da população, constatamos ainda que a política de abastecimento de água é regida por critérios de desenvolvimento separado que não têm nada a ver com os técnicos que a operacionalizam mas com os governantes que tomam as decisões políticas.
Para demonstrar uma tal afirmação, basta olharmos, com olhos de ver, para os dados de uma peça jornalística inserta no semanário Expansão, de 18 de Setembro de 2009, sob o título, “EPAL investe 183 milhões de USD para aumentar capacidade de oferta”. Nela, Juvenis Paulo, o autor da peça, refere que a EPAL tem em curso um programa para “aumentar a captação, produção e distribuição” de água à Luanda. Esse programa está repartido por quatro projectos; três já em curso, que perfazem 183,4 milhões de dólares americanos, e um ainda em fase de aprovação no Conselho de Ministros, no valor estimado de 140 milhões de dólares americanos. Ora, o primeiro projecto, que visa a construção de centros de distribuição e instalação de dez quilómetros de condutas adutoras, destina-se a fornecer água ao Estádio do CAN, ao Campus Universitário e a zona residencial do Camama. O segundo projecto visa o reforço da capacidade da Estação de Tratamento de Água (ETA) de Sudeste e a construção de novos centros de distribuição e de alguns fontanários na zona do Camama. O terceiro projecto visa aduzir água para o Pólo Industrial de Viana, a partir do sistema 1. Finalmente, o quarto projecto visa, na primeira fase, ampliar a captação das ETAs do Bengo e do Candelambro e, na segunda, construir um sistema de distribuição de 120 km, no bairro dos Mulenvos de Cima e ainda implantar 240 fontenários nas zonas de Cacuaco, Viana e Cazenga.
Parece que há uma prioridade no abastecimento de água, pelos meios públicos, às zonas das novas urbanizações, ligadas aos interesses imobiliários do círculo do poder. Mas, qualquer que seja o critério utilizado, parece que para a política de água há cidadãos que tão-somente merecem chafarizes (tal como o colono lhes oferecia) e outros merecem água canalizada, em suas casas. Pelos vistos, para os governantes angolanos, as chamadas zonas residenciais estruturadas são consideradas como fazendo parte da civitas e, por isso, os seus habitantes são considerados cidadãos portadores do direito ao acesso à água potável, nas suas residências. Por outro lado, para esses governantes, os demais cidadãos, moradores nas chamadas zonas não estruturadas, são (des)considerados como não fazendo parte da civitas mas do espaço do indigenato, sem direito ao acesso à água potável, nas suas residências mas tão-somente ao chafariz comunitário.
É claro que em pleno século XXI não podemos aceitar um dito desenvolvimento na base do chafariz por aquilo que esta limitação representa para a saúde pública, para o asseio pessoal, a higiene doméstica, a redução de oportunidades, a carga física e social, nomeadamente em relação às mulheres, às crianças, às jovens meninas, e a perturbação do percurso escolar. Para além de que não é uma solução segura e obriga a muitas reposições, tornando-a dispendiosa. Há que encontrar soluções inovadoras, no espírito da parceria público/privado com as comunidades, de maneira que elas próprias possam contribuir para levarem a canalização final até as suas casas. Temos que ter como meta imediata colocar uma torneira em cada casa, de cada família angolana, acabando com o apartheid social que esta política traduz.

Nelson Pestana (Bonavena)